quarta-feira, 7 de agosto de 2002

Vânia e Vanira escrevem sobre o caso Keli-Karina

Vejo uma dificuldade muito grande no basquete feminino de discutir com vontade seus graves problemas, de procurar soluções.

Aqui mesmo no blog, a euforia é sempre maior quando faço elogios.

Críticas são mal-digeridas no meio e invariavelmente trazem dor de cabeça ou ao menos uma sensação de pânico generalizado a minha pessoa ou ao blog.

Tudo conseqüência de um esporte de estruturas frágeis, arcaicas em que o silêncio acaba sempre sendo o comportamento tido como exemplar.

Por isso, recebo com ânimo revigorado uma manifestação espontânea das irmãs Hernandes, emitindo sua opinião sobre esse caso (que poucas pessoas ousam comentar) do processo movido contra a pivô Karina pela também pivô Keli Karina.

Independente de concordar ou não com a opinião de Vânia ou Vanira, acredito que quando as pessoas forem mais sinceras e corajosas, como elas são, o basquete feminino e o mundo serão mais felizes.

Vamos ao texto:


"Temos acompanhado o caso Keli, lemos a última matéria e gostaríamos de nos manifestar a respeito disto. Eu e a Nira jogamos com a Keli em São José do Rio Preto e Avaré até recebermos um convite para jogar em Campinas. Durante nosso acerto com a Karina, eu e a Nira mencionamos o nome da Keli e pedimos para ela dar uma oportunidade para a Keli pois sabíamos que ela era de uma família humilde e precisava estar empregada.

A Karina atendeu nosso pedido e contratou-a, mesmo sabendo que não era uma jogadora de grande expressão no basquete feminino e dificilmente teria outra oportunidade desta.
Fomos muito bem recebidas em Campinas, moravamos com a Keli e mais seis numa casa muito bonita e organizada, foi algo que a Karina fez e muito bem, nos deu condições de treinar e jogar sem deixar faltar nada.

Infelizmente aconteceu esta contusão que foi uma fatalidade, ninguém comenta ou procura saber como foi, só dizem que a Marta deu uma cotovelada, dando a impressão que foi intencional, podemos garantir que não foi.

A Keli foi socorrida e depois de algum tempo ficamos sabendo da gravidade da lesão. Enquanto estávamos lá, ela teve toda assistência, foi tratada por um profissional de altíssimo nível que é o Nivaldo, não faltando nada para tentar reverter este quadro.

Não nos cabe aqui defender ninguém, o fato é que durante todo tratamento da Keli, (até quando presenciamos), todas nós da casa conversamos com ela e a orientamos a voltar estudar e procurar se organizar para um dia conviver com a possibilidade de não jogar mais basquete. E isso, independente da lesão, pois não sabíamos o que podia acontecer, mais sim, porque a Keli, e muitas atletas, inclusive nós, por vários motivos poderíamos ficar na mesma situação.

O basquete feminino não é profissionalizado, os clubes não tem estrutura e condições de manter pelo resto da vida uma atleta que se lesiona ou fica desempregada, a única coisa que as vezes podemos ter é a ajuda de amigos caso do Nivaldo, que se preocupou em ajudar e dar toda assistência necessária não só para a Keli, mas para todas nos atletas quando foi preciso. É realmente uma pessoa maravilhosa pelo qual eu e a Nira gostamos muito e agradecemos pela ajuda que esta oferecendo a Keli e por tudo que fez por nos em Campinas.

Outra coisa que nos deixou chateada foi o fato da Keli dizer que os amigos se afastaram. Descordo da Keli porque quando ficamos sabendo de sua situação, imediatamente pegamos o telefone e nos comunicamos com a Keli para saber como ela estava além do fato, que amigo é o que eu e a Nira fizemos indicando sua contratação para defender a equipe da Knnor Lamen em Campinas além de sempre estarmos disposta a ajudar quando ela precisou sendo com uma palavra amiga ou mesmo interferindo em alguma coisa junto aos diretores quando algo não estava bem ou quando a Keli precisava de alguma coisa tanto na vida profissional como pessoal. Acho a situação delicada, mas também não achamos correto a Keli usar desta situação para dizer que passa fome, que foi abandonada, e de usar a mídia para denegrir a imagem de um esporte que até hoje serviu de sustento para ela.

Existe um ser maior que se chama Deus, e este Deus, sabe o que faz, e se a Keli esta passando por isso, é porque é a vontade D'Ele, até mesmo para um crescimento maior na vida da Keli, para um aprendizado de vida e até mesmo para saber e entender que nem sempre as coisas são como desejamos, e que antes de uma critica, deve-se colocar na situação oposta para saber se tudo realmente foi feito e porque deixamos de fazer. Errar não só é humano como necessário. Gostaríamos que a Keli em suas entrevistas passasse para as pessoas que se preocupam com ela a situação que está o câncer, se o tratamento esta dando certo, se regrediu ou não ao invés, de só ficar criticando, falando de dinheiro e de auto piedade. A Keli é uma menina privilegiada porque independente da situação que se encontra tem uma pessoa de alto nível cuidando dela. Agora eu pergunto: - Quantas pessoas nesta situação não tem sequer um lugar para morar, ou como pagar um tratamento para se curar? Quantas atletas que tiveram que abandonar a carreira por motivos semelhantes tiveram ajuda? Quantas atletas estão desempregadas porque o basquete não oferece mais condição de sobrevivência?
Pedimos desculpas e podemos até ser criticadas, mas não achamos justo usar de doença para criticar o Basquete, Karina, Federação, Confederação etc.. Achamos sim que a Keli necessita de ajuda que já esta sendo oferecida pelo Nivaldo e pelo Amoroso por isso, achamos que o caminho não é criticar, e sim seguir a vida, levantar a cabeça e olhar para dentro de si mesma e acreditar um pouco mais na justiça divina e dentro disso adquirir um pouco mais de Fé deixando que a justiça terrena cuide do que é certo ou errado, quem errou ou não e quem deve ou não porque com certeza dos olhos de Deus, ninguém escapa.

Keli, isto não é uma critica a sua pessoa, é um conselho de duas atletas e amigas sua que já passaram por muitas coisas e aprenderam que Deus nos deu dois ouvidos e uma boca que é justamente para ouvir mais e falar menos. Estamos falando sem saber como está a sua doença, mas caso o seu câncer esteja curado, que você siga sua vida e conduza seu caminho buscando o melhor para você sem depender de ninguém."


Por Vânia e Vanira Hernandes




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